Amizade

Havia um banco de pedra no meio do pátio da escola onde nos juntávamos sempre que não estávamos na sala de aula; uma pastelaria nas traseiras onde almoçávamos cachorros todos os dias para fugir da comida da cantina, ninguém naquela altura se preocupava com colesterol, alimentação equilibrada ou dietas. Creio que ainda não nos preocupamos com a última, o que sinceramente me deixa feliz e tranquila. Tenho medo de gente que passa fome e se priva de todos os prazeres para caber dentro de um vestido. Havia um barzinho (vagabundo, é preciso dizer), não se conseguia respirar direito com tanto fumo de tabaco, onde esticávamos as horas em que a preguiça era mais forte do que a obrigação de aprender. Nunca pertencemos ao grupo das meninas completamente comportadinhas e aplicadinhas, mas nunca perdemos um único ano e entrámos todas na primeira opção da faculdade. Sempre foi isso que importou, viver tudo ao máximo sem deixar para trás o que realmente importava; acredito que conseguimos. Havia um grupo de quatro meninas muito diferentes, unidas por uma amizade que vai além do tempo. Elas foram crianças e adolescentes; choraram e pensaram que iriam morrer quando sofreram o primeiro desgosto de amor; estavam juntas todos os dias durante horas e mesmo assim escreviam cartas umas às outras; falavam-se no telefone durante horas; estiveram sempre lá nos bons e nos maus momentos. Agora, elas são mulheres. Já não se encontram no banco de pedra no meio do pátio, nem esticam as horas no barzinho vagabundo. Conquistam sonhos, seguem os seus ideais, lutam pelos seus projectos; porém, continuam unidas pelo mesmo laço de amizade. E agora, que a primeira do grupo está prestes a abandonar o maravilhoso mundo de solteira, fica a certeza de que nós próprias temos um casamento de anos, e que na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, estaremos sempre ao lado umas das outras torcendo para que cada uma seja a pessoa mais feliz do planeta.