Contratempo

"Enquanto não atravessarmos a dor da nossa própria solidão,
continuaremos a buscar-nos em outras metades."

Ter nas mãos os cornos do destino, a cada segundo fazer escolhas que influenciam a minha e outras vidas e a responsabilidade de seguir os caminhos certos, é demais. Liberdade de escolha é graça, mas tem-me aterrorizado. Estou presa na teia de decisões erradas que vou tomando, de tal forma emaranhada que quanto mais me mexo mais os pequenos fios se enrolam em volta dos meu braços e pernas. É facto, nunca estive tão atrapalhada quanto agora. Dá vontade de cortar todos os fios à toa para me libertar de uma vez, mas depois vem o medo de cortar fios fundamentais à sustentação do que sou e aí recomeça todo o processo de mentalização para ter calma. A calma é fundamental para não se enlouquecer, só que por muito que eu queira não sei ser plácida. De todas as coisas terrivelmente terríveis, uma das que mais me aflige é a expectativa: não saber se o que foi voltará a ser, esperar acções de quem talvez nunca venha a agir, ter a corda no pescoço e não fazer ideia do momento para saltar sem morrer. Nada disso sou eu, mas por enquanto continuo suspensa, até que um dia me nasçam asas ou a corda rebente.