15 julho 2008

Quem manda lá em casa?

"As crianças são pessoas, mas não são pessoas crescidas. Pelo menos, ainda não!
Os pais são os adultos, são aquelas pessoas crescidas em quem os filhos necessitam de se apoiar e que, passo a passo, os orientam no caminho da independência e da autonomia. (...)
e é preciso uma coisa muito simples: que os pais não tenham receio de assumir as suas responsabilidades (...)"


6:45 da manhã.

O dia mal amanheceu e Inês já sente o frenesim de quem acumula as funções de dona de casa, mãe e profissional. Tem a rotina de todos os dias bem definida na cabeça para tentar evitar o caos, mas sabe que quando se tem crianças pequenas em casa todos os imprevistos podem acontecer.
Maria tem 8 anos, Eduardo 12. Enquanto o mais velho toma banho, Inês tenta convencer Maria a vestir a roupa que tinha sido escolhida na véspera para evitar birras matinais. Mas Maria mudou de ideias durante a noite, ou durante aqueles breves minutos que passaram desde que abriu os olhos, e a saia de pregas azuis já não serve. Quer os corsários cor de rosa da Hello Kitty para combinar com a T-Shirt branca da mesma marca, que por sua vez vai combinar com os ténis, a mochila, enfim... só quem tem 8 anos sabe o quão essencial é levar a Hello Kitty para a escola.
A mãe que compulsivamente vai olhando para o relógio, cede à pressão da pequena para evitar atrasos maiores, grita pelo mais velho para que venha tomar o pequeno almoço e, enquanto isso, vai terminando de se arranjar e de preparar a mesa.

7:20 da manhã.

Os dois sentam-se à mesa para comer. Eduardo repara que o chocolate para o leite não é Nesquik, a mãe explica que não havia esse no supermercado e que o que trouxe faz o mesmo efeito, mas o petiz parece não concordar e rejeita beber o leite. Quer iogurte. Inês, uma vez mais, cede e deixa-o trocar o leite sem chocolate Nesquik por um iogurte. Para sua sorte tinha comprado os iogurtes certos.



Embora esta história seja ficcional, poderia perfeitamente descrever o quotidiano de uma qualquer família. Pasmem-se todos aqueles que como eu acham isso impensável, mas uma larga maioria de pais assume sem qualquer pudor que lá em casa quem manda são os filhos.
Eles decidem o filme no cinema, fazem birras para vestir as roupas que querem, põ
em o hipermercado inteiro a olhar para os pais quando estes se negam a comprar-lhes algo, garantindo assim que eles cedem para evitar vergonhas públicas, escolhem o que querem comer, e a lista continua...
Mesmo não tendo filhos e não fazendo por isso ideia da reviravolta que se dá na cabeça de um ser humano quando gera um outro ser, pergunto-me que tipo de adulto se está a criar quando deixamos que tudo lhe seja permitido? Onde fica a diferença fundamental entre ser filho e ser pai? Quantas cedências terão que ser feitas para que a criança esteja satisfeita? E será que algum dia ela estará satisfeita?
Jamais defenderia um lar que funcione como uma ditadura militar, mas penso que nenhum pai pode cair no abismo da permissividade total só para não se atrasar ou cair nas "más graças" da criança. Todos nós precisamos de limites, pois é essa linha ténue e muitas vezes imperceptível que nos mantém no lugar certo. E na vida tudo o que não tem regras pode tornar-se perigoso, inclusive o amor.

30 comentários:

Jana disse...

pois é, há que haver um equilibrio, e acho q eu tenho isso com o Bernardo

beijo

disse...

Lá em casa meus pais botaram limites desde que erámos pequenas. É claro que nenhum dos limites foi abusivo ou absurdo. E também nos deram bastante liberdade. Acho que o que não pode faltar na relação pai e filho é o diálogo. Parece que os pais não tem tempo de explicar ao filho o porque das regras, das limitações e das responsabilidades.

Bjo

Cin disse...

Concordo, existem lares por aí onde quem manda são as crianças. Tomara que eu saiba colocar na prática tudo que sei na teoria.
Bjinhos!

Mariah disse...

pois é querida, mas vá tentar defender essa tese às 6:00 da madrugada...entre uma apelo pela Hello Kit e a marca do achocolatado.
O que mais nos atormenta é a insegurança dos filhos. Queremos os nossos filhso os mais seguros, os mais bonitos, mais bem resolvidos...sem ter a consciência de que, para isso, precisarão passar por tudo o que passamos.

Eu tenho uma "Maria" de 8 anos e quando li o escrito vi a cena na manhã na minha casa, com uma sutil diferença, me libertei do café da manha...todos para a padaria...dan-se o padeiro.

Mas todos os problemas a parte...coisa única essa de ser mãe....errando e aprendendo.

beijos querida
obrigada pela visita
mariah

Borboleta disse...

historia fantastica :)
tens jeito

beijinhos

AcidStorm disse...

As crianças precisam de limites, precisam saber o valor das coisas e que os pais fazem o que podem para dar-lhes conforto, porém as vezes nem tudo que se tem pode se ter com um passe de mágica.
E quando a família não colocam um ponto final, as crianças crescem com a a idéia ilusória de que podem tudo e nada tem limite, daí tornam-se adolescentes problemáticos e no futuro adultos frustrados.


Um abraço.

Ana Amelia Teixeira disse...

Meu João Pedro ainda tem 7 meses,
e já ta numa manha tão grande que só vendo mesmo;rsrs
bjuxxx!!!!

Anónimo disse...

Mas impor limites dá trabalho. E os pais atuais ( não todos é verdade ) querem mais é minimizar os problemas.
Tenho um belo exemplo na minha familia. Minha cunhada não consegue "domar" minha sobrinha de 4 anos.
Pode??

Beijos!!

Flá Costa * disse...

"E na vida tudo o que n�o tem regras pode tornar-se perigoso, inclusive o amor"

e acho at� que principalmente o amor.
� quando a gente se entrega mais que t� propenso � maiores perigos.
adorei aqui.

beeeijo*

Juliana disse...

é por isso q existem tantos adultos sem limites...
=/

Edna Federico disse...

Isso é mais comum do que podemos imaginar. Sabe o que é, educar dá trabalho e tem pai e mãe que não está disposto à isso!
Educar filhos é um trabalho de paciência e persistência, tipo formiguinha mesmo.
Beijo

Janaina disse...

Eu adoro crianças, sabe?
Mas tem umas que dá vontade de botar numa jaula.

Anónimo disse...

Amiga:
Não me visita mais? Não quer minha amizade? Nem me linkou, se não quiser mais, eu entenderei, não se preocupe, não recebi mais suas visitas, voltou e só passando por aqui que percebi.
Beijos Floridos...

Eu lírico disse...

Amar é tb oferecer ao outro a oportunidade de ter limites e conhecer os fundamentos do respeito mútuo, assim educo meu pequeno filho, assim fui educada.
Dessa forma não sou ditadora e nem tenho uma miniatura de absolutista dentro de casa.rsss
Beijo pro cê, coisa mais linda de amiga.
Glau

fj disse...

Há q haver um meio-termo.
eu tive a "sorte" de ter uma filha extraordinaria em que nunca houve divergencia entre o patamar por ela ocupado e o seguinte (tolerância)- que nunca quis passar...enquanto jovem..entenda-se!
Bom fim de semana!
bjs

Mel disse...

Girassol, não é tão fácil sabermos se estamos fazendo certo ou errado quanto aos limites, mas é sempre bom tentar!
Beijos pra ti!

Anónimo disse...

Graças a Deus querida, pensei que não queria mais minha simples amizade, senti sua falta e pensei besteira rsrs.
Bem, acredito que vc disse tudo, por isso amo tudo que escreves porque concordo com tudo, as crianças necessitam de limites por mais vergonha que os pais passem, muita auto-proteção destrói porque não serão protegidos e não terão tudo que querem a vida toda, sou contra tudo isso na ficção que é pura verdade seu exemplo, eu que sou professora e pedagoga de cças, afirmo o que vc diz, tudo tem limites se não as cças cresceram monstros, querendo tudo, se achando donas da verdade, isso ao meu ver não é educação, educar é saber dizer não quando necessário. Assino embaixo do que vc escreve.
Beijos Minha Querida Amiga e fica com os anjos do senhor.

Ceisa Martins disse...

Como já diriaaquele ditado: " filhos porque tê-los, mas se não tê-los, como sabê-los!"

:)

Beijos!

quanto pesa o vento? disse...

mais um dia que nos enche e preenche...

abraço.

R Lima disse...

A criança sem limites é um futuro adulto desajustado... mimado e dono do mundo.

E um pouco de choro não faz mal a ninguem.

Té,





Texto de hoje: vÉrtiCeS...

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O AveSSo dA ViDa - um blog onde os relatos são fictícios e, por vezes, bem reais...

A Flor disse...

Oi meu amor! :-))

Que saudades eu tinha de passear por aqui e te sentir!... :)

De manhã é sempre um stress para sair de casa... lá isso é verdade... mas quando são mais pequenos... eu agora como já tenho o Pedro com 11 e o Hugo com 15, já as coisas são bem menos stressantes, bem mais fáceis...

É verdade, podemos e devemos amar as crianças, sem dúvida..... MAS.... é fundamental haver regras e limites.... ai se é! É de pequenino que se torce o pepino, lá diz o velho ditado... eu sou apologista do diálogo, de conversar, de explicar, de faze-los compreender o porquê de ser assim, o porquê disto ou daquilo...

Linda, mil beijos doces te deixo e a certeza do meu carinho por Ti. Tem uma excelente semana Ana.

Tua Flor com amizade e carinho

anad disse...

O excesso de mimo ou a falta de atenção podem justificar todas estas atitudes. Acredito que hoje há sem sombra de dúvida crianças assim. Mas o problema será delas?
Uma abraço
Anad

O Profeta disse...

O começo!
Uma viagem no Mundo presente
Será que o vento açoita as árvores
Ou são elas que cedem ao embalo docemente


Um doce embalo em brisa de verão para ti


Boa semana


Mágico beijo

São disse...

Equilíbrio, sempre.
Embora dificil.
Feliz semana.

Ana Libório disse...

É exatamente aí que mora o meu medo de ter filhos...tenho medo de não saber educar!!!PQ, na verdade, a gente não educa 100% uma criança, ela vem com a personalidade tb e, muitas vezes, que personalidade...!!!!rs!
Elas já nascem com respostas gravadas dentro delas, respostas que deixam a gente sem fala!!Enfim, é preciso muita coragem e maturidade pa se ter filhos hj em dia e acho que falta em mim, uma dessas duas coisas. Ou as duas.

Beijo!

P.S.: Adorei a visita no meu blog.Vá semrpe agora,ok??

Anónimo disse...

Pois é, crescer sem saber ouvir um não é difícil e ruim para aquele que está crescendo, porque a vida não é só feita de sim.
Bjitos!

Unknown disse...

Bem, não existem fórmulas. Sabemos tudinho de cor na teoria, mas quando chega a hora da prática...

O amor ao filho , às vezes é algo irracional. Erramos pensando em acertar, mas amar em demasia pode ser perigoso, em qualquer situação. Os pais querem proporcionar aos filhos aquilo que não puderam ter. Eu espero que ele saiba valorizar cada conquista sua, aproveitar a vida sem medo de saboreá-la e lutar sempre por seus ideais. Essa é a maior herança que quero deixar para ele.

Bjs.

Jaqueline Sales disse...

Dizem as minhas filhas, que lá em casa quem manda sou eu, mas isso me incomoda porque meu marido acaba sempre passando pelo bonzinho, o compreensivo, e eu sendo aquela que faz e estabelece as pontes. Mas esses papéis não são definidos assim, de imediato. Eles surgem e vão sendo praticados de acordo com o temperamento e o jeito de ser e de agir de cada um, por isso acredito que eu seja um tanto quanto mandona mesmo.

É fato que o relacionamento familiar é complexo, há muito o que dar e receber, e fica de certa forma cômodo para um dos pais deixar que as decisões mais importantes fiquem a cargo de um dos parceiros. Isso acaba gerando intrigas e desavenças porque esse poder é limitado - limitado até que um dos parceiros perceba que, por omissão, ele deu poderes que não deveria e nem poderia, e os filhos imediatamente absorvem e tentam respeitar a importancia desse papel.

Que bom que está de volta, minha querida. Você ilumina nossas casas com palavras e maneiras de pensar sempre oportunas. Que bom que te recebi!


BeijUivoooooooooossssssss da Loba

Alexandre Lucio Fernandes disse...

De fato é preciso saber enxergar essa linha tênue e saber lidar com as crianças. Difícil.

Belo conto. Dá pra refletir.

;)
Beijos minha linda

Flávia disse...

Fui criada dentro de limites rigorosos. Lembro que muitas vezes tive raiva dos meus pais por conta disso - hj não me vejo criando meus filhos de forma diferente da que fui criada. Se me tornei a pessoa que sou hoje, devo muito disso aos "NÃO" que recebi quando criança.

Excelente reflexão a sua.

Beijo ;)